quinta-feira, 26 de junho de 2008

CONDIÇÕES DESUMANAS

Até onde merecemos castigos pelos nossos impulsos, ou condições de vidas desfavoráveis que nos levem a tais atitudes, que interfere ou altere a vida de um outro ser humano?

Fui assistir um documentário sobre o maior complexo penitênciário da América Latina, O Carandirú. Confesso que é assustador as condições de vida que os presos viviam nesse lugar antes de sua desativação. Não sabia em que comparar aquilo, seria um exílio ou um compo de extermínio. Talvez nem chegue a isso, ou poderia ser pior, mas algo em comum todos tinham, lutar por sua vida.

Este documentário, é a cara da desigualdade racial, social que existe em nosso país hoje. Leis frágeis, governantes "lunáticos" e cegueira da sociedade. Não consiguia entender um lugar onde cabia mais de 7 mil pessoas, agromeradas, dormindo umas em cima das outras sem saber que iria acordar. Hoje tenho uns10% desta visão.

Ali realmente é o retrato da cidade de São paulo, um lugar que não pàra. De dia os presos se revesam na área de "sol", com os 7 pavilhões, talvez eles não saibam o que é sentir um raio de sol, não se vê nascer e nem se pôr, à noite os ratos fazem sua hora de lazer, convivendo com os presos como se fossem pessoas da própria familia. Pra eles só existe uma certeza, eles estão presos. Presos de uma tal forma que os fazem repensar e passar por todos os sentimentos que refletem nas suas atitudes em busca de uma idêntidade melhor. Um ser humano sem idêntidade é um ser sem passado, quando existe um passado ele automáticamente reflete no seu presente que os levam à atitudes futuras, mesmo sem que você perceba. Mas como lembrar do passado, onde o presente tortura sem esperança do futuro?

Os depoimentos são dramáticos, a clemência existente nos olhos de cada um, clama a inocência de um ser, que se sente derrotado, humilhado, sem passado ou futuro, martirizado. tudo isso cercado por um gigantesco muro de concreto. Ouvi relatos que ali, não modifica ninguém pra melhor, todos dizem a mesma coisa. É como se fosse um modelo atômico, a sociedade são os eletróns e os presos amotinados é o núcleo, giramos em torna de algo que nos repele do contato.

Quero deixar bem claro, que não sou a favor das pessoas que matam, robam ou interferem no bem estar comum de uma sociedade, alterando sua postura ou maneira de viver, com clareza é certo que pagem pelos seus atos e sejam punidos. Até então, o poder judiciário faz a sua parte, que é tirar este elemento da sociedade e isola-lo. O problema que este isolamento trás um conflito interno muito forte, onde a sua modificação não acontece e a própria sociedade não recolhe este indivíduo e não aceita em sua convivência. Nossos erros tem que ser trabalhados para que virem acertos.

Confesso que duas partes no documentário me emocionou, pela singeleza da cena contracenada com a brutalidade da realidade. Uma é quando um detento, pega uma foto de um horizonte somente com a paisagem da natureza e diz:

-Um dia ainda vou sentir isso novamante.

Como plano de fundo, tinha o muro refletido com o pôr de sol, onde só via o muro. Pra muitos isso foi apenas mais um dos relatos, pra mim foi saber que qualquer hora, posso usurfluir deste cenário sem que ninguém impessa, um cenário que até então era um simples valor pragmático. E ele, de que pode usurfluir? Somente da foto.

O outro momento, foi também um relato de um detento que trabalha tirando fotos dos outros presos com suas famílias em dias de visitas. Ele disse:

-Aqui, o que é mais torturador, é vc tirar a foto de um preso com sua família hoje, e amanhã vc passa pelo corredor e depara com ele morto por um motivo banal.

Até onde podemos fingir que isso não acontece? Até exergarmos que isso surge do nosso quintal!

Você já comeu sua comida quentinha feito pela sua mãe hoje?

Os presos agora estão comendo uma comida azeda, dentro de uma cela sem água, sem higiene, sem janela, com o triplo de pessoas de sua capacidade.

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