sábado, 24 de outubro de 2009

Travessia

De repente, abro meu guarda-roupa e percebo que as roupas são as mesmas. Me olho no espelho, percebo que meu corpo sofreu mudanças que o tempo não deixou que percebesse. Assim, procuro uma explicação para tais conflitos.
Junto com tudo isso, percebo que meus amigos já não são os mesmos também; ora aumentam ora diminui. Talvez seja hora de mudanças, da travessia, porque estéticamente e históricamente mudamos.
Se continuar com as mesmas roupas, que já tem a forma do meu corpo, talvez não tenha coragem de encarar o caminho que escolho, porquê assim como as roupas velhas, são escolhas, se continuarmos usando e usando um dia elas rasgam e para remendá-las será pior do que trocá-las enquanto há tempo.
Quando abandonamos algo, deixamos para trás caminhos que nos levam aos mesmos lugares, se não ousarmos em abandonar, ficaremos assim parados, as nossas margens.
As explicações das tais mudanças é o tempo, nosso maior vilão quando queremos usar as mesmas roupas e nosso maior amigo quando decidimos abandoná-las e amadurecer. O que me falta é coragem, coragem de deixar as lembranças ao invéz de transformá-las.

Adaptação do poema de Fernando Pessoa.

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