sábado, 25 de julho de 2009

O que fica são só lembranças.

Assim era o nativo! A quem podemos atribuir o nome de "autóctone". Aguardando o que mais seria de sua noite, depois de confraternizar com seus amigos, momentos ao qual todas as vezes surgem lembranças que sempre são reapresentadas para que o instante possa existir. E como seria, viver sem essas lembranças? E porquê não criar novos momentos para que surgem novas lembranças? Onde com certeza será lembrada em mais um dia desses encontros. Talvez o momento ali, não precisasse de passados e sim de presenças que eram percebidas quando surgia o silêncio, onde rotineiramente escultava-se o som da colher esbarrando no fundo do copo ou então o som da torrada que se quebrava violentamente entre os dentes, onde eram esmagadas e engolidas. Assim, surgem as amizades atravéz do silêncio sem contatos, somente atravéz de olhares.

Quando se conhece o caminho onde se passa, não adianta querer enxergar além do que se vê sempre. O espaço ali existe, não se movimenta nem se quer abre novas passagens para que sua noite possa ser diferente, Tudo permanece intácto.

A noite sempre te cobra aquilo que o dia te deu. Mas nessa noite o autóctone se via vencido pelo cansaço, queria sentir seu corpo calmo sem movimentação brusca, nada que pudesse desviar sua mente ou que direcionasse sua visão transformando em pensamentos insanos. Mesmo assim, ele não se via derrotado, apenas um pouco de amargura e tristeza, onde o corpo não entendia a sua mente.

O lugar precisava ser escuro para que realmente pudesse se sentir sozinho, descobri sua respiração, tato, sons e porquê não o silêncio? Mas não entendia como poderia enxergar o reflexo da alma num submundo apagado. Mas enxergou! Enxergou o Português que surgia levemente entre os canhões de luz que insistia em desviar a visão, mas agora é tarde, seus olhares se cruzaram, setia um ao outro num calor intenso sem precisar estar próximos. Apenas não existia coragem de aproximarem mas depois que o "autóctone" percebeu que não estava mais sozinho em mundo que imaginava ser de fantasias, balançou a cabeça dizendo que sim, o sim que permitia existir, que permitia descobrir de uma forma diferente aquilo que já estava saturado. Com sua coca-cola, gelo e limão podia adoçar sua boca levemente até que o limão destruia o doce com sua acidez e o gelo acalmava esse atrito do seu paladar.

De repente estavam ali, próximos. Boca-boca, mente-mente, pele-pele. Não entendia mais seu corpo que se alterava de forma marginal, mas queria descobrir sua mente que estava tão confusa naquele momento. Assim permitiu sair daquele lugar escuro e discutir frases sobre portuguesesXautóctones. Num mundo deslumbrante, uma paisagem fria, aquela vida das pessoas pareciam ter parado de uma forma tão dolorosa, que os dois não entendia porque o noite era calada. Passos surgiam ao longe, mas impossível saber a origem. Tinham a sensação de estarem sendo vigiados mas não sabiam por quem. O português era o mais corajoso, talvéz seja culpa do alcóol que consumia suas palavras, onde raramente se definia com clareza, mas isso não impediu de que abraços penetrantes aparecessem, que o autóctone pudesse recitar um poema de Bárbara Heleodora "Bárbara louca", não se sabe porque este poema, mas era necessário.

A noite transmitiu tristeza, muita tristeza para o português, mas ele não sabia explicar o porquê. Apenas pedia abraços que lhe pudesse sentir presente, ao lado de alguém que lhe dava segurança, como colo de mãe, numa noite onde se tem pesadelos. Ele dizia que as pessoas ali, que estava dentro dos seus abrigos eram tristes, sozinhas, elas estava sentindo dores, mas infelizmente ele não poderia ajudar, mas sendo um profissional da área da saúde. Somente o "autóctone" entendia aquele sofrimento, porque ele vivera ali 23 anos corridos de sua vida, já não aguentava mais ser a dor que as pessoas viam, mas ele não queria que aquilo acabasse, queria ficar ali, ver o sol jogar violentamente seus raios em seu rosto, para que pudesse despertar e esquecer o sofrimento daquela noite que não sentia mais sozinho, porque tinha do seu lado, alguém destemido.

Mas a alegria durava pouco, porque a cidade daquele lado se despertava, os galos carcarejavam, o escuridão estava sendo expulsa dando lugar ao cinza misturado com aquele verde. Foram embora no ressoar das seis badaladas, eram seis vidas nascendo, seis morrendo, eram apenas seis horas da manhã.

O português foi em busca do seu caminho e o "autóctone" fora embora voltando a ser sozinho, sentindo medo, querendo correr, e pensando que mesmo quando se vivi momentos ao lado de alguém, o que fica são só lembranças.




Texto: Ronaldo D´carma
Inspiração: Caio Fernando de Abreu

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